“O Realismo é uma
reação contra o Romantismo: o Romantismo era
a apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do
homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que
houve de mau na nossa sociedade.” Eça de Queirós.
Introdução
A poesia do final da década de 1860
já anunciava o fim do Romantismo; Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto
faziam uma poesia romântica na forma e na expressão, mas os temas estavam
voltados para uma realidade político-social. O mesmo se pode afirmar de algumas
produções do romance romântico, notadamente a de Manuel Antônio de Almeida,
Franklin Távora e Visconde de Taunay. Era o pré-realismo que se manifestava.
Na década de 70 surge a chamada
Escola de Recife, com Tobias Barreto, Sílvio Romero e outros, aproximando-se
das idéias européias ligadas ao Positivismo, ao Evolucionismo
e, principalmente, à filosofia alemã. São os ideais do Realismo que encontravam
ressonância no conturbado momento histórico pelo Brasil, sob o signo do
abolicionismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia.
Em 1857, o mesmo ano em que no Brasil
era publicado O guarani, de José de Alencar, na França é publicado Madame
Bovary, de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance
realista da literatura universal. Em 1865, Claude Bernard publica
Introdução à medicina experimental, com uma tese sobre a hereditariedade. Em
1867 Émile Zola publica Thérèse Raquin, inaugurando o romance naturalista.
No Brasil considera-se 1881 como o
ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a literatura
brasileira, com a publicação de dois romances fundamentais, que
modificaram o curso de nossas letras: Aluísio Azevedo publica O mulato, o
primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de Assis publica Memórias
póstumas de Brás Cubas, o primeiro romance realista de nossa literatura.
Na divisão tradicional da história da
literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo é 1893, com a
publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Souza, obras inaugurais
do Simbolismo. No entanto,
é importante salientar que 1893 registra o início do Simbolismo, mas não o
término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e
naturalistas, e na poesia, com oParnasianismo. Basta lembrar
que Dom Casmurro, de Machado de
Assis, é de 1900; Esaú e Jacó, do mesmo autor, é de 1904. Olavo Bilac foi
eleito “príncipe dos poetas” em 1907. A Academia Brasileira de Letras,
templo do Realismo, é de 1897. Na realidade, nos últimos vinte anos do
século XIX e nos primeiros vinte anos do século XX, temos três estéticas que se
desenvolvem paralelas: o Realismo e suas manifestações, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhecem o
golpe fatal em 1922, com aSemana de Arte
Moderna.
Diferenças entre Realismo e Naturalismo
O Realismo reflete as profundas
transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da Segunda metade do
século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa
nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade;
ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da
Física e da Química. O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o
surgimento de grandes complexos industriais; por outro lado, a massa operária
urbana avoluma-se, formando uma população marginalizada que não partilha dos
benefícios gerados pelo progresso industrial mas, pelo contrário, é explorada e
sujeita a condições subumanas de trabalho.
Esta nova sociedade serve de pano de
fundo para uma nova interpretação da realidade, gerando teorias de variadas
posturas ideológicas. Numa seqüência cronológica temos o Positivismo de Auguste
Comte, preocupado com o real-sensível, o fato, defendendo o cientificismo no
pensamento filosófico e a conciliação da “ordem e progresso” (a
expressão, utilizada na bandeira republicana do Brasil, é de inspiração
comtiana); o Socialismo Científico de
Karl Marx e Friedrich Engels, a partir da publicação do Manifesto Comunista, em 1848,
definindo o materialismo
histórico (“o modo de produção da vida material condiciona o processo de
vida social, político e intelectual em geral” – K. Marx) e a luta de classes; o
Evolucionismo de Charles Darwin, a partir da publicação, em 1859, de A origem
das espécies, livro em que ele expõe seus estudos sobre a evolução das espécies
pelo processo de seleção natural, negando portanto a origem divina defendida
pelo Cristianismo.
O Brasil também passa por mudanças
radicais tanto no campo econômico como no político-social, no período
compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais, se
comparadas às da Europa. A campanha abolicionista intensifica-se a partir
de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/70) tem como conseqüência o pensamento
republicano – o Partido Republicano foi fundado no ano em que essa guerra
acabou –; a Monarquia vive uma vertiginosa decadência. A Lei Áurea, de
1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade. O
fim da mão-de-obra escrava e a sua substituição pela mão-de-obra assalariada,
então representada pelas levas de imigrantes europeus que vinham trabalhar na
lavoura cafeeira, originou uma nova economia voltada para o mercado externo,
mas agora sem a estrutura colonialista.
É nesse contexto
socio-político-científico que surgem o Realismo, o Naturalismo e o
Parnasianismo. A alteração do quadro social e cultural exigia dos escritores
outra forma de abordar a realidade: menos idealizada do que a romântica e mais
objetiva, crítica e participante. Contudo há semelhanças e diferenças entre
essas correntes. As semelhanças residem na objetividade, na luta contra o
Romantismo e no gosto por descrições minuciosas.
Características
As características do Realismo estão
intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo, dessa forma, a postura do
Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo, com todas as suas variantes.
Assim é que o objetivismo aparece como negação do subjetivismo romântico e nos
mostra o homem voltado para aquilo que está diante e fora dele, o não-eu; o
personalismo cede terreno para o universalismo. O materialismo leva à negação
do sentimentalismo e da metafísica.
O nacionalismo e a volta ao passado
histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o presente, o
contemporâneo.
Influenciados por Hypolite Taine e
sua Filosofia da arte, os autores realistas são adeptos do determinismo,
segundo o qual a obra de arte seria determinada por três fatores: o meio, o
momento e a raça – esta, no que se refere à hereditariedade. O avanço das
ciências, no século XIX, influencia sobremaneira os autores da nova estética,
principalmente os naturalistas, donde se falar em cientificismo nas obras desse
período.
Ideologicamente os autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como se observa na leitura de romances como O mulato, O cortiço e O Ateneu, por exemplo. Negam a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a família; eis por que os sempre presentes triângulos amorosos, formados pelo pai traído, a mãe adúltera e o amante, que é sempre um “amigo da casa”; para citarmos apenas exemplos famosos de Machado de Assis, eis alguns triângulos: Bentinho/Capitu/Escobar; Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas; Cristiano Palha/Sofia Palha/Rubião. São anticlericais, destacando-se em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia de velhas beatas.
Finalmente é importante salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que nela se podem perceber três tendências distintas, expostas a seguir.
Ideologicamente os autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como se observa na leitura de romances como O mulato, O cortiço e O Ateneu, por exemplo. Negam a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a família; eis por que os sempre presentes triângulos amorosos, formados pelo pai traído, a mãe adúltera e o amante, que é sempre um “amigo da casa”; para citarmos apenas exemplos famosos de Machado de Assis, eis alguns triângulos: Bentinho/Capitu/Escobar; Lobo Neves/Virgília/Brás Cubas; Cristiano Palha/Sofia Palha/Rubião. São anticlericais, destacando-se em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia de velhas beatas.
Finalmente é importante salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que nela se podem perceber três tendências distintas, expostas a seguir.
Romance Realista
Cultivado no Brasil por Machado de
Assis, é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a
crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados
personagens. É interessante constatar que os cinco romances da fase
realista de Machado apresentam nomes próprios em seus títulos – Brás Cubas;
Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Aires –, revelando clara preocupação
com o indivíduo.
O romance realista analisa a
sociedade “por cima”, ou seja, seus personagens são capitalistas, pertencem à classe
dominante; mais uma vez nos voltamos para a obra de Machado e percebemos que
Brás Cubas não produz, vive do capital, o mesmo acontecendo com Bentinho; já
Quincas Borba era louco e mendigo até receber uma herança; o único dos
personagens centrais de Machado que trabalhava era Rubião (professor em Minas),
mas recebe a herança de Quincas Borba, muda-se para o Rio e não trabalha mais,
vivendo do capital. O romance realista é documental, retrato de uma época.
Observe o trecho abaixo:
Naquele tempo contava apenas uns
quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e,
com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia
da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o
autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também
não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era
bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e
eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da
criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante,
pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, -
devoção, ou talvez medo; creio que medo. (ASSIS, Machado de.
Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Scipione, 1994. p. 45)
Podemos notar todo o estilo irônico
do autor, aqui com suas baterias voltadas contra as idealizações românticas que
haviam moldado o gosto do público leitor. Repare que Machado parte de uma
adjetivação que nos leva a montar um perfil da heroína romântica (a mais
atrevida, a mais voluntariosa, bonita, fresca, carregada de feitiço, faceira)
para só num segundo momento provocar a ruptura: ignorante, pueril,
preguiçosa.
Romance Naturalista
Cultivado no Brasil por Aluísio
Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Souza e
Manuel de Oliveira Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular, pois seu
romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora
impressionistas.
A narrativa naturalista é marcada
pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados,
valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances
naturalistas apresentam a mesma preocupação: O mulato, O cortiço, Casa de
pensão, O Ateneu. Há inclusive, sobre o romance O cortiço, a tese de que
o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, nem
Pombinha, mas sim o próprio cortiço ou, como afirma Antônio Candido, “o
romance é o nascimento, vida, paixão e morte de um cortiço”. Sob um certo
ponto de vista, o mesmo poderia ser dito sobre o colégio Ateneu (os dois
romances se encerram com a destruição dos prédios, abrigos coletivos).
Por outro lado, o naturalismo apresenta
romances experimentais; a influência de Darwin se faz sentir na máxima
naturalista segundo a qual o homem é um animal; portanto, antes de usar a
razão, deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em
suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe
dominante. A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto
naturalista; em consequência, esses romances são mais ousados e erroneamente
tachados por alguns de pornográficos, apresentando descrições minuciosas de
atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos, como o
homossexualismo: tanto o masculino, como em O Ateneu, quanto o feminino,
em O cortiço.
Observe o texto abaixo:
Ana Rosa, com efeito, de algum tempo
a essa parte, fazia visitas ao quarto de Raimundo, durante a ausência do
morador.
Entrava disfarçadamente, fechava as
rótulas da janela, e, como sabia que o morador não aparecia àquela hora,
começava a bulir nos livros, a remexer nas gavetas abertas, a experimentar as
fechaduras, a ler os cartões de visita e todos os pedacinhos de papel escrito,
que lhe caíam nas mãos. Sempre que encontrava um lenço já servido, no
chão ou atirado sobre a cômoda, apoderava-se dele e cheirava-o sofregamente,
como fazia também com os chapéus de cabeça e com a travesseirinha da
cama.
Estas bisbilhotices deixavam-na caída
numa enervação voluptuosa e doentia, que lhe punha no corpo arrepios de
febre. (AZEVEDO, Aluísio. O mulato. 19. ed. São Paulo,
Martins Fontes, 1974. p. 121)
Observamos que a personagem Ana
Rosa, criada segundo alguns “caprichos românticos e fantasias poéticas”, não
resiste à força da atração física que Raimundo lhe desperta, chegando a invadir
o quarto do rapaz. O importante é notar como a moça é dominada pelos
instintos; como se fosse um animal, “lê” o mundo por meio dos sentidos (ela
“conhece” o rapaz pelo cheiro que ele imprimiu nos objetos); a excitação
provoca reações físicas (enervação voluptuosa, febre), transformando-se num
caso patológico, doentio.
Observação:
Como você observa, há vários pontos
de coincidência entre o romance realista e o naturalista; diríamos até que
ambos partem de um mesmo ponto x e ambos chegam a um mesmo ponto y, só que
percorrendo caminhos diversos. Tanto um como outro atacam a monarquia, o
clero e a sociedade burguesa. Inclusive, podemos encontrar, num mesmo
autor, determinadas posturas mais realistas convivendo com enfoques mais
naturalistas. É o caso de O Ateneu, citado acima.
Eça de Queirós, em Portugal, é outro
exemplo significativo: alguns críticos o consideram realista, outros
classificam-no como naturalista.
Poesia Parnasiana
Preocupada com a forma e a
objetividade; a “arte pela arte”, com seus sonetos alexandrinos
perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a
Trindade Parnasiana.
O soneto, a métrica alexandrina (12
sílabas poéticas), a rima rica, rara e perfeita, tudo isso se contrapondo aos
versos livres e brancos dos românticos. Em suma, é o endeusamento da Forma.
Realismo e
Naturalismo no Brasil
Contexto Histórico
O Realismo, no Brasil, nasceu em
consequência da crise criada com a decadência econômica açucareira, o
crescimento do prestígio dos estados do sul e o descontentamento da classe
burguesa em ascensão na época, o que facilitou o acolhimento dos ideais
abolicionistas e republicanos. O movimento Republicano fundou em 1870 o Partido
Republicano, que lutou para trocar o trabalho escravo pela mão-de-obra
imigrante.
Nesse período, as ideias de Comte,
Spencer, Darwin e Haeckel conquistaram os intelectuais brasileiros que se
entregaram ao espírito científico, sobrepujando a concepção espiritualista do
Romantismo. Todos se voltam para explicar o universo através da Ciência, tendo
como guias o positivismo, o darwinismo, o naturalismo e o cientificismo. O
grande divulgador do movimento foi Tobias Barreto, ideólogo da Escola de
Recife, admirador das ideias de Augusto Comte e Hipólito Taine.
O Realismo e o Naturalismo aqui se
estabelecem com o aparecimento, em 1881, da obra realista Memórias Póstumas de
Brás Cubas, de Machado de Assis, e da naturalista O Mulato, de Aluísio de
Azevedo, influenciados pelo escritor português Eça de Queirós, com as obras O
Crime do Padre Amaro (1875) e Primo Basílio (1878). O movimento se estende até
o início do século XX, quando Graça Aranha publica Canaã, fazendo surgir uma
nova estética: o Pré-Modernismo.
Características
A literatura realista e naturalista
surge na França com Flaubert (1821-1880) e Zola (1840-1902). Flaubert
(1821-1880) é o primeiro escritor a pleitear para a prosa a preocupação
científica com o intuito de captar a realidade em toda sua crueldade. Para ele
a arte é impessoal e a fantasia deve ser exercida através da observação
psicológica, enquanto os fatos humanos e a vida comum são documentados, tendo
como fim a objetividade. O romancista fotografa minuciosamente os aspectos
fisiológicos, patológicos e anatômicos, filtrando pela sensibilidade o real.
Contudo, a escola Realista atinge seu
ponto máximo com o Naturalismo, direcionado pelas idéias materialísticas. Zola,
por volta de 1870, busca aprofundar o cientificismo, aplicando-lhe novos
princípios, negando o envolvimento pessoal do escritor que deve, diante da
natureza, colocar a observação e experiência acima de tudo. O afastamento do
sobrenatural e do subjetivo cede lugar à observação objetiva e à razão, sempre,
aplicada ao estudo da natureza, orientando toda busca de conhecimento.
Alfredo Bosi assim descreve o
movimento: "O Realismo se tingirá de naturalismo no romance e no conto,
sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das
"leis naturais" que a ciência da época julgava ter codificado; ou se
dirá parnasiano, na poesia, à medida que se esgotar no lavor do verso
tecnicamente perfeito".
Vindo da Europa com tendências ao
universal, o Realismo acaba aqui modificado por nossas tradições e, sobretudo,
pela intensificação das contradições da sociedade, reforçadas pelos movimentos
republicano e abolicionista, intensificadores do descompasso do sistema social.
O conhecimento sobre o ser humano se amplia com o avanço da Ciência e os
estudos passam a ser feitos sob a ótica da Psicologia e da Sociologia. A Teoria
da Evolução das Espécies de Darwin oferece novas perspectivas com base
científica, concorrendo para o nascimento de um tipo de literatura mais
engajada, impetuosa, renovadora e preocupada com a linguagem.
Os temas, opostos àqueles do
Romantismo, não mais engrandecem os valores sociais, mas os combatem
ferozmente. A ambientação dos romances se dá, preferencialmente, em locais
miseráveis, localizados com precisão; os casamentos felizes são substituídos
pelo adultério; os costumes são descritos minuciosamente com reprodução da
linguagem coloquial e regional.
O romance sob a tendência naturalista
manifesta preocupação social e focaliza personagens vivendo em extrema pobreza,
exibindo cenas chocantes. Sua função é de crítica social, denúncia da
exploração do homem pelo homem e sua brutalização.
A hereditariedade é vista como
rigoroso determinismo a que se submetem as personagens, subordinadas, também,
ao meio que lhes molda a ação, ficando entregues à sensualidade, à sucessão dos
fatos e às circunstâncias ambientais. Além de deter toda sua ação sob o senso
do real, o escritor deve ser capaz de expressar tudo com clareza, demonstrando
cientificamente como reagem os homens, quando vivem em sociedade.
Outro tratamento típico é a
caracterização psicológica das personagens que têm seus retratos compostos
através da exposição de seus pensamentos, hábitos e contradições, revelando a
imprevisibilidade das ações e construção das personagens, retratadas no romance
psicológico dos escritores Raul Pompéia e Machado de Assis.
A Principal característica do
Realismo é a Psicologia
A Princpal característica do
Naturalismo é a Cientifica
Autoria: André F. de Castro
Obras do
Realismo e Naturalismo
Dom Casmurro
Por Machado de Assis
Realismo. A história toda se
passa no Rio de Janeiro do Segundo Império e conta a história de Bento e
Capitolina, esta sendo descrita por José Dias, agregado da mãe de Bento, como tendo
"olhos de cigana"; a infância, onde surge a paixão com Capitu,
primeiro estranha e depois mais bem definida, a juventude de Bento no Seminário
ao lado de Escobar, seu melhor amigo até a morte deste por afogamento, o
casamento de Bentinho e Capitu, após a mãe deste cumprir a promessa de enviar
um rapaz ao serviço da Igreja mandando um "enjeitadinho" ao seminário
no lugar de Bento e a separação devido ao ciúme de Bentinho por Capitu com
Escobar, mesmo depois deste morrer. Ele manda então a esposa e seu filho para a
Europa por causa do ciúme, quase matando-os antes envenenados. Seu encontro com
o filho, muitos anos mais tarde, é frio e distante, já que a todo o instante
ele o compara com Escobar, seu melhor amigo que ele achava o ter traído e ser o
pai do então já jovem estudante de Arqueologia, que falece, meses depois numa
escavação no estrangeiro, sem jamais ver o pai novamente. Um romance
psicológico, sob o ponto de vista de Bentinho, nunca se tem certeza de que
Capitolina traiu-o ou não. A favor da tese da traição existe o fato que Bento
sempre parece falar a verdade, as semelhanças achadas por Bento entre seu filho
e Escobar e o fato que os outros descreviam Capitu como maliciosa quando esta
era jovem. Contra a tese existe que Capitu reclamou de seu ciúme e nunca
efetivamente fez muita coisa que desse motivo de suspeita, exceto uma vez em
que manteve um segredo com Escobar, que era casado. Este humilde escritor acha
que Bento não foi traído, mas isso é essencialmente pessoal.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Por Machado de Assis
Realismo. A história é narrada
por Brás Cubas, um defunto autor que após narrar sua morte e funeral começa a
contar a sua vida. Conta a infância, as travessuras, o primeiro namoro com
Marcela (interesseira e bela, fica pobre e feia), um namoro com Eugênia (que
acaba pobre) e mais tarde seu noivado com Virgília. Como Virgília casa com
outro eles mais tarde se tornam amantes. O romance era ajudado por Dona Plácida
(que também morre pobre) e acaba quando esta vai para o Norte com o marido.
Conta então seu reencontro com o amigo Quincas Borba (primeiro na miséria,
depois rico, depois miserável e louco), que lhe expõem sua filosofia, o
Humanitismo. Cubas passa seguir o Humanitismo. Já deputado, não se reelege ou
se torna ministro e funda um jornal de oposição baseado no Humanitismo. Mais
velho se volta para a caridade e morre logo após criar um emplasto que curaria
a hipocondria e lhe traria fama.
Quincas Borba
Por Machado de Assis
Realismo. Continuação de
Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba conta a história do ex-professor
primário Pedro Rubião de Alvarenga, que após cuidar do filósofo Quincas Borba
até a morte, recebe dele toda a fortuna sob a condição de tomar conta do cachorro,
que também tem o nome de Quincas Borba. Rubião muda-se então para o Rio. No
caminho conhece o casal Sofia e Cristiano Palha. Apaixonado por Sofia e
ingênuo, Rubião vai sendo explorado e aproveitado por todos os amigos, que lhe
tomam dinheiro emprestado, lhe pedem favores, jantam em sua casa mesmo quando
ele não está, etc. Vai envolvendo-se sem sucesso com a política e perdendo
muito dinheiro com gastos exagerados e empréstimos. Cristiano e Sofia (que não
corresponde o amor) vão se aproveitando dele muito mais, subtraindo-lhe a
fortuna, saindo do estado original de dívidas para um de opulência no final. A
medida que o tempo passa, a decadência material e o desespero de não ter
correspondido seu amor leva Rubião a enlouquecer. Enquanto no começo travava "discussões"
com Quincas Borba (o cão), depois começa a pensar ser Napoleão III e Sofia sua
esposa Eugênia. Passa a nomear todos nobres e generais, ter visões, falar
sozinho. Quando ao final é internado num manicômio, sua fortuna não é mais 1%
do que antes fora. Ele foge do manicômio e volta para Barbacena, de onde saíra
após enriquecer, levando apenas Quincas Borba. Enlouquecido e pobre, é
recolhido pela comadre e morre louco, corando-se Napoleão III, repetindo
incessantemente nos seus últimos dias a célebre frase "Ao vencedor, as
batatas!" Narrado em terceira pessoa, cheio de ironia sofisticada, uma
personagem feminina dissimulada, uma dúvida constante (Quincas Borba é o título
por causa do cão ou do filósofo?), esta é uma das melhores e mais famosas obras
de Machado de Assis.
Esaú e Jacó
Por Machado de Assis
Realismo. Contada como que por
um autor que teve acesso ao Memorial do Conselheiro Aires, usa o volume último
de seus cadernos. Começa contando a história de Natividade que, grávida de
gêmeos em 1871, consulta uma vidente. Esta lhe diz que seus filhos, apesar de
estarem brigando em seu ventre, terão grande futuro. Ao sair, de tão feliz, dá
uma esmola grande a um mendigo ("para as almas", mas ele guarda o
dinheiro). Desde quando nascem os jovens Pedro e Paulo tornam-se contrários. As
disputas uterinas tornam-se políticas já que Paulo é republicano e Pedro
monarquista, Pedro tornar-se-á advogado, Paulo médico. Eles estudam separados
(Paulo em São Paulo, Pedro no Rio) e conhecem em 1888 a filha de um casal de políticos,
Flora, pela qual se apaixonam. E ela corresponde o amor aos dois. Assim os
irmãos desunidos unem-se e competem pelo amor de Flora. O Conselheiro Aires,
amigo das duas famílias, trabalha junto com os pais dela para que ela escolha
um ou nenhum, mas escolha. Assim transcorre o tempo com os irmãos discutindo a
política desde a Abolição, passando pela Proclamação da República e a queda de
Deodoro (os pais de Pedro e Paulo e os de Flora são políticos e nunca parecem
saber quem estará no poder). A distância por vezes separa o trio, mas eles
permanecem (des)unidos. Flora é cortejada por outras, incluindo Nóbrega, o
mendigo de 1871 enriquecido mais tarde, mas ela rejeita a todos. Quando em
1892, durante o estado de sítio declarado por Floriano Peixoto, Flora morre, os
irmãos se unem na dor e reconciliam-se. Um mês depois renasce a inimizade. Mais
um ano e tornam-se deputados (em partidos opostos, logicamente). Quando a mãe
morre, pede que ambos tornem-se amigos e eles juram que o farão. No ano
seguinte são vistos sempre juntos na Câmara. No seguinte àquele, desentendem-se
novamente. Uma maravilhosa mostra da capacidade de Machado de Assis, esta obra
foge do maniqueísmo do esquema gêmeo bom - gêmeo mau, mantendo sempre o ponto
de vista que, apesar das divergências ou por causa delas, Pedro e Paulo são
dois lados da mesma moeda. É eficiente também em mostrar os anos de transição
do Império para a República.
Memorial de Aires
Por Machado de Assis
Realismo. Escrito sob a forma do
diário do aposentado Conselheiro Aires, diplomata aposentado que deixou a
mulher morta em Bruxelas. Tudo se passa de 9 de Janeiro de 1888, aniversário da
volta do diplomata de Bruxelas ao Brasil, até o fim de agosto do ano seguinte.
Apesar de ter sido escrita por Aires e serem suas impressões que lemos (ele
declara que queimará o diário quando o acabar, se não morrer antes), a história
é sobre Fidélia e Tristão. Fidélia é uma viúva moça que ainda dedica ao marido,
mesmo que só ao seu túmulo, dedicação. Aires aposta com Rita, sua irmã, que ela
recasará um dia; talvez até com ele. Rita é "filha de empréstimo" do
casal Aguiar e ainda muito triste pelo falecimento do marido e a situação
familiar geral, á que o casamento foi como um Romeu e Julieta que não uniu as
famílias, mas desuniu-as. Tristão é afilhado dos Aguiares e um tanto volúvel:
indo a Lisboa para se tornar advogado, torna-se médico e político. Volta então
ao Brasil para visitar seus padrinhos e "pais de empréstimo".
Enquanto Aires vai narrando o cotidiano daquela situação, como que fora dela
como estava Brás Cubas em suas Memórias Póstumas, morre o pai de Rita e ela
finalmente se reconcilia com seu passado. Ela vai à fazenda paterna fazer os
arranjos e volta mais tarde. À medida que o tempo passa Tristão e Rita vão
aproximando-se, até que ele se apaixona por ela, fato que confessa a Aires, que
também a admirava, mesmo que nunca a dissesse e não fosse de modo apaixonado,
como que apenas pela estética de o fazer. Quase chegando o tempo de voltar a
Lisboa pelos fins de 1888, Tristão vai adiando a partida até que ele e Fidélia
decidem se casar. Eles esperam a aprovação dos pais dele e depois até maio para
o casamento em si. O casamento procede bem e deixa o casal Aguiar felicíssimo
pela união dos "filhos" e pela permanência de Tristão que estava para
partir. Alguns meses depois do casamento Fidélia e Tristão decidem viajar a
Europa e tentam convencer o casal Aguiar a ir também, mas eles se negam. Eles
recomendam ao Conselheiro que cuide do casal e, ao chegar a Lisboa, Tristão
encontra-se eleito deputado (ele tinha se naturalizado português) e eles ficam,
como era seu plano original; por isso aliás tentaram convencer o velho casal a
acompanhá-los. O livro acaba com uma anotação sem data após 30/08/1889, com o
casal Aguiar desolado pela partida dos "filhos". Contado todo sob a
forma de um diário, com anotações com datas ao invés de capítulos, este livro
foi o último escrito por Machado de Assis, e o foi para compensar a perda da
esposa tem fortes tons autobiográficos. Entre os fatos importantes estão o fato
de que Aires está se retirando de cena, assim como o autor que faleceu no ano
da publicação do livro, encontra-se saudoso, é irônico, tem influência inglesa,
perdeu a esposa, etc. Remete também ao primeiro romance maduro do autor,
Memórias Póstumas de Brás Cubas, já que Aires encontra-se fora de cena (mas não
tanto quanto Cubas) e livre para falar sem estar preso a convenções.
O Cortiço
Por Aluísio de Azevedo
Naturalismo. O Cortiço conta
principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o
primeiro o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava ao qual ele mente
liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico mas mais fino, com um
casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão
no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele
se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono
(ela se mata antes de perder a liberdade). A outra história é a de Jerônimo e
Rita Baiana, o primeiro um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e
vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, parar de pagar a escola da
filha e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias
histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim
como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem.
Casa de Pensão
Por Aluísio de Azevedo
Naturalismo. A história conta sobre
Amâncio, um jovem preguiçoso e vil que chega ao Rio de Janeiro para
"estudar", quando na verdade quer apenas festa. Filho de pai rígido e
mãe bondosa, teve como primeiro professor um homem cruel. Sem muita
intelectualidade, pena no estudo da Medicina. Primeiro mora na casa de Campos,
cujo a mulher Hortênsia brinca de sedução. Depois muda-se para a casa de pensão
João Coqueiro, onde este e sua mulher tramam um plano para que ele case com
Amélia, sua irmã. Este plano sofre oposição de Lúcia, que quer o rapaz e sua
riqueza para si. Lúcia é expulsa e Amélia e Amâncio tornam-se amantes. Os
abusos de Coqueiro e seu séquito, como a exigência de uma casa nova levam
Amâncio a aborrecimentos e, meses depois da morte do pai com quem principiava a
se reconciliar, tenta viajar de volta para o Maranhão. Impedido pela lei por
uma acusação de ter estuprado Amélia é impedido de viajar, mas é inocentado.
Campos, que ficara sempre a seu lado, volta-se contra ele após descobrir a sua
paixão por Hortênsia. Após livre Amâncio vai a uma festa no Hotel Paris, onde
João Coqueiro lhe mata pela manhã durante o sono. Depois do novo escândalo sua
mãe chega sem saber de sua morte e o descobre vendo a exploração comercial
feita do caso. Baseada em uma história real que escandalizou o Brasil no século
XIX.
O Mulato
Por Aluísio de Azevedo
Naturalismo. A história é sobre o
amor de Ana Rosa e seu primo Raimundo, impedido belas barreiras do preconceito
racial contra Raimundo, que é mulato. Raimundo é rejeitado, ignorado e
maltratado pela sociedade do Maranhão (onde a história se passa), mas ainda
assim seu amor e o de Ana Rosa florescem. Após certo tempo Raimundo propõe a
Manoel, seu tio e pai de Ana, que eles se casassem, mas este recusa apenas
baseado no fato de que Raimundo é um mulato. Ante a esse fato Raimundo recua
transtornado enquanto Ana, mesma com hesitações, tenta recuperá-lo, mesmo sem
entender o motivo da separação no começo. Ele recobra os ânimos e eles decidem
fugir, mas são pegos. Após uma discussão sobre o que fazer do futuro de Ana
Rosa (um empregado de seu pai era seu noivo a contragosto dela), ela revela
estar grávida de Raimundo. Isso escandaliza a avó (extremamente preconceituosa
e uma das maiores barreiras para este amor), estranha ao noivo e deixa o pai
descrente dos fatos. O único que não se surpreende com a revelação é o cônego
Diogo, confidente de Ana Rosa, amante da esposa do pai de Raimundo quando o
casal era vivo, e executor do pai de Raimundo. Diogo é preconceituoso e
manipulador; odeia Raimundo por este ser mulato e maçom. Quando era amante de
Quitéria, esposa de José, pai de Raimundo, obrigou José a não revelar nada
quando este esganou a esposa (preconceituosa, ela torturava escravos e negros
forros como a mãe de Raimundo, Domingas) ao achá-la em adultério. Padrinho de
Ana Rosa, ele exerce seu poder de influência muito habilidosamente e protege
Dias, o noivo de Ana. Quando após o fatídico encontro eles se retiram, Diogo
convence Dias a matar Raimundo e dá-lhe a arma do crime. Dias mata Raimundo
relutantemente e o crime passa por todos na impressão geral de ter sido
suicídio. Quando Ana descobre tem um aborto. Seis anos depois, mostra-se o
destino de várias personagens secundárias e o de Ana e sua família. A avó Maria
Bárbara e o pai Manoel (que tinha o apelido de Pescada) morreram e ela e Dias
aparecem casados e bem, com três filhos; ela comporta-se amorosamente com o
marido, executor de seu antigo amado, que antes detestava. Ainda cheio de
vícios românticos (maniqueísmo, herói e heroína perfeitos, vilões cruéis,
supervalorização do amor, o mistério e o suspense comuns aos românticos), esta
obra prevalece como naturalista, pois a visão de mundo é naturalista, existe um
forte Determinismo e o herói, assim como o autor, é positivista.
Luzia-Homem
Por Domingos Olímpio
Naturalismo. Luzia-Homem é um
exemplo do Naturalismo regionalista. Passado no interior do Ceará, nos fins de
1878, durante uma grande seca, vai contando a história da retirante Luzia,
mulher arredia, de grande força física (o apelido Luzia-Homem provém desta
força que lhe permitia trabalhar melhor que homens fortes). Luzia trabalha na
construção de uma prisão e é desejada pelo soldado Capriúna. Mas Luzia não se
interessa por amores e mantém uma relação de amizade e ajuda mútua com
Alexandre. Após Alexandre propor-lhe casamento (existe por toda a história a
relutância de Luzia de admitir que gosta de Alexandre), este é preso por roubar
o armazém do qual era guarda. Luzia passa visitar-lhe na prisão e sua amiga, a
alegre Teresinha, para cuidar de sua mãe doente. Após um certo tempo, Luzia
para de lhe visitar na prisão. Ao fim Teresinha descobre que Capriúna era o
verdadeiro ladrão e uma das assistentes de Luzia (ela havia sido dispensada e
depois voltara ao trabalho, mas como costureira) lhe falar que a testemunha
contra Alexandre mentia, o culpado é preso. A família de Teresinha aparece (ela
havia fugido de casa com um amante que morreu meses depois) e ela, humilhada
fica subserviente a eles, especialmente ao pai que a rejeita. Luzia descobre
isto e, depois de um interlúdio, convence-a a viajar com ela, migrando para o
litoral. No caminho Capriúna se liberta e vai ataca Teresinha, a culpada de sua
prisão. Encontrando Luzia, mata-a e acaba caindo de um desfiladeiro. Marcado
pela fala característica dos personagens, Luzia-Homem mantém duas
características clássicas do Naturalismo por toda obra: o cientificismo na
linguagem do narrador e o determinismo (teoria de que o homem é definido pelo
meio).
A Carne
Por Júlio Ribeiro
Naturalismo. A história conta de Lenita, uma garota especial inteligente e
cheia de vida cuja mãe morrera em seu nascimento. Aos 22 anos após a morte de
seu pai torna-se uma jovem sensível. Lenita decide morar na fazenda do coronel,
velho que havia criado seu pai. Lá conhece Manuel Barbosa, o filho do coronel,
homem já maduro, separado há muito tempo de uma francesa.
Lenita firmara uma
amizade com Manuel que aos poucos se revelou uma louca paixão, no início
repelida por ambos, mas depois consolidada com o forte desejo da carne. Narra a
ardente trajetória desse romance marcado por encontro e desencontros, desejos e
sadismo, batalha entre mente e carne.
Até que um dia Lenita
encontra cartas de outras mulheres guardadas por Manuel e sente-se traída,
abandona-o mesmo estando grávida de três meses e casa-se com outro homem.
Manuel suicida-se, o que comprova o resultado final da batalha "MENTE x
CARNE".
Bom-Crioulo
Bom-Crioulo
Por Adolfo Caminha
Naturalismo/Realismo. Bom-Crioulo é o apelido de Amaro, escravo fugido que se torna marinheiro.
Ele desenvolve um relacionamento homossexual com Aleixo, jovem grumete. Eles
arranjam um sótão para seus encontros na casa de Carolina, amiga de Amaro.
Quando este é transferido, passam a se desencontrar e Carolina seduz Aleixo.
Amaro, que estava hospitalizado, doente e fraco quando antes era forte,
descobre que ele havia se tornado amante de Carolina e mata-o. Nem homófobo nem
homófilo, este romance apresenta a imparcialidade naturalista típica. O
relacionamento dos dois é retratado como outro qualquer e Aleixo é sempre
descrito como "feminino", tornando-se "masculino" só após
algum tempo como amante de Carolina.
O Ateneu
Por Raul Pompéia
Naturalismo/Realismo. com tendências
Expressionistas e Impressionistas. Narrado em primeira pessoa, "O
Ateneu" é narrado pelo personagem principal, Sérgio, já adulto. Não
linearmente, ele mostra os dois anos em que viveu na escola, microcosmo que
servia de metáfora para a Monarquia e a sociedade em geral, com os fortes
dominando os fracos e um rei comandando, o diretor Aristarco neste caso.
Narrados são episódios de suas amizades, seus colegas interferindo com ele, a
tensão homossexual entre os alunos do internato, a falsidade de uns, a
deformação de caráter de outros e a única pessoa que lhes ajudava no internato,
Dona Ema, mulher de Aristarco. Quando a escola é incendiada no final da
história por um aluno durante as férias, Ema foge. Sérgio presencia a cena,
pois estava convalescendo ainda na escola. Segundo críticos posteriores este
final da história seria simbólico e representaria a vingança do autor de seu
passado, já que a história tem caráter semiautobiográfico.
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